Nem todo luto é sobre a morte: a coragem de se despedir para seguir em frente
O luto não é só sobre a morte. Embora muitas vezes associemos o luto à perda de alguém querido, ele também surge quando precisamos nos despedir de fases, relações e modos de viver que já não fazem parte do nosso caminho. Esse olhar mais amplo ajuda a entender como as transições fazem parte da vida e como cada mudança pede coragem, presença e acolhimento.
Foi com esse olhar acolhedor que o Grupo Jardim da Saudade realizou a live “Café com Saudade: Nem Todo Luto é Sobre a Morte”, no dia 27 de novembro, com o filósofo e teólogo Alexandre Cabral, que trouxe reflexões importantes sobre transformação, finitude e sobre como seguir em frente com leveza.
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Por que o luto não é só sobre a morte: um processo contínuo de mudança
Uma ideia central da conversa foi que a morte não é apenas um fim. Ela faz parte do movimento natural da vida. Alexandre explica que “morrer” é algo que acontece simbolicamente em vários momentos do nosso caminho.
Todos nós vivemos pequenos lutos quando precisamos deixar:
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versões antigas de quem já fomos,
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relações que se encerraram,
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ciclos da vida, como formatura, troca de trabalho ou mudança de cidade, entre outros.
Aceitar que a vida está sempre mudando é um passo importante para vivermos com mais serenidade. Esses lutos simbólicos fazem parte do amadurecimento emocional.
Quando o apego congela a vida
Segurar o que já terminou pode nos deixar presos ao passado. Esse “congelamento” impede que novas fases se abram.
Lidar com o luto é permitir que a vida siga seu curso.
É ter coragem de deixar ir o que já cumpriu seu papel, para que o novo possa chegar.
Mesmo a alegria traz seu luto
O luto também aparece em mudanças boas.
Quando assumimos uma nova rotina, começamos um trabalho diferente ou mudamos de casa, é normal sentir saudade do que ficou para trás. Toda mudança — mesmo positiva — traz uma pequena despedida. Isso é parte do crescimento.
Como reconhecer lutos que não envolvem morte
Eles aparecem quando resistimos ao fim de algo que já cumpriu seu papel — e isso também mostra por que o luto não é só sobre a morte. Permitir que a vida siga é parte essencial da cura.
Lidar com o luto é permitir que o fluxo natural da vida continue. É ter coragem de deixar ir o que precisa partir.
A beleza da saudade
Se tudo passa rápido e cada momento é único, então tudo tem valor. Por isso, muitas vezes o choro ou a saudade são sinais de gratidão pelo que foi vivido.
Como dizia Rubem Alves, amar é “ter um pássaro pousado no dedo”: ele pode voar, e isso não diminui o amor — faz parte da beleza da vida.
Superar o luto não significa esquecer. Significa aprender a guardar a saudade de um jeito leve, permitindo que o que foi importante continue nos acompanhando, sem nos impedir de seguir em frente.
O luto faz parte da vida. Quando o encaramos como transformação, ele se torna um impulso para começarmos novos capítulos com mais coragem e maturidade.